domingo, 19 de julho de 2009

1 - Fim do Mundo

A lembrança mais viva que eu tenho da minha infância na Capela está relacionada a um fato que faz parte da história sentimental da cidade e que eu testemunhei de perto.

Em 20 de dezembro de 1959 foi inaugurada a TV Piratini, canal 5. Meu pai foi um dos primeiros capelenses a comprar um receptor de TV, já no ano de 1960. Quando o aparelho foi instalado na nossa casa, o fato se espalhou pela vizinhança toda. Naquela época, não havia transmissão de TV durante o dia (a não ser nos fins de semana). No primeiro dia em que fomos desfrutar a novidade, nossa casa se encheu de amigos, vizinhos, conhecidos, fregueses do armazém. Eram dezenas de pessoas. Tantas que não couberam todas dentro da sala e muitos assitiram de fora dela, pelas janelas.
E assim deve ter sido, também nos dias seguintes.
Creio que exatamente no dia da estréia (mas pode ter sido um ou dois dias depois) aconteceu um fato incrível. Naquela época falava-se muito no fim do mundo. Tinha gente que não acreditava em TV. Achava impossível que a imagem fosse transmitida de Porto Alegre para a Capela pelo ar. E muitos acreditavam que tais coisas eram brucharia ou sinais de que o Fim do Mundo estava próximo. Por isto a TV, além de despertar encantamento nas pessoas, provocava também um certo medo.
E não é que, justamente no dia da estréia (ou talvez num dia logo subsequente), com a sala de nossa casa lotada de pessoas que apreciavam a fantástica novidade, aconteceu uma violenta expolosão. O barulho vinha da rua, mas a imagem da TV deve ter tremido. As pessoas, tomadas de absoluta surpresa, ficaram em suspense. Não sabiam o que pensar. O mais óbvio parecia ser que uma novidade (a explosão) deveria ter algo a ver com a outra (a TV). Logo em seguida houve um outro ruído vindo do telhado da casa. Objetos caíam sobre ele, como numa forte chuva de pedra. Pessoas saíram correndo. E algumas até gritaram “É o fim do mundo!”.
Depois se soube que havia explodido a caldeira da graxeira (panelão em que se fervem os ossos e outros restos da rês carneada, para se extrair deles a graxa). A graxeira funcionava como uma espécie de panela de pressão e, em caso de descuido, podia explodir. Como acontece também com a caldeira de um barco a vapor ou de um trem. E ela ficava num local coberto por telhado. Com a explosão, o telhado foi aos ares e foram pedaços de telha que caíram sobre o telhado da nossa casa, produzindo ruido após a explosão. Uma ou duas pessoas, que cuidavam da graxeira, ficaram muito queimadas, pois a água e graxa ferventes foi lançada sobre os seus corpos.
Deve haver gente na Capela (talvez até mesmo estas pessoas que foram atingidas pela explosão ou as que estavam em nossa casa assistindo à TV), que poderiam contar mais detalhes sobre esta história.

3 comentários:

  1. O Matadouro e Açougue a que o texto acima se refere ficava situado na atual Rua João Coitinho onde atualmente existe uma Clinica de Fisioterapia no Bairro Estação Azevedo é de propriedade de meu pai Carlos Flores de Oliveira que na época do acidente estava alugado para Joaquim Flores de Oliveira meu tio. A graxeira ainda existe, ela faz parte da história de Capela de Santana.

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  3. GRUPO DE TERNO DE REIS
    Esta mensagem me foi enviada por José Lori da Silva.
    Nos anos 50 uma turma de amigos se reuniu em um galpão crioulo para a formação de um grupo de terno.Tinham como mestre josé lori da Silva com seu companheiro Antônio de Paula e contra-mestre Milton Garcia Coitinho,também violeiro do grupo,com o companheiro Ademar Sthroer e ainda Valter Filippsen como gaiteiro.
    O grupo chegava nas casa cantando, então os moradores acendiam as luzes e convidavam os músicos para entrarem.
    Os versos eram improvisados pelo mestre do terno.
    Cantaram por muitos Natais, Anos Novos e Dia de Reis sendo muito bem recebidos por onde passavam.
    O grupo de terno era sinônimo de felicidade pois deixava alegria por onde ia, mas foi encerrado porque alguns companheiros partiram.
    Ficou a saudade daqueles tempos maravilhosos.

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