quinta-feira, 30 de julho de 2009

8 - Mais velho que a estrada da Capela


A rua, em frente à igreja luterana, foi parte da estrada mais antiga da região
No Vale do Caí existe uma expressão que já foi mais usada, mas ainda hoje é lembrada por muitos. Quando se quer dizer que algo é muito antigo, diz-se que "é mais velho do que a estrada da Capela".
Que estrada será esta? O assunto merece uma pesquisa.
Pode se imaginar que houve, muito antigamente, um caminho ligando Porto Alegre a Capela. Ele deve ter surgido por volta de 1740 e é muito provável que a travessia do Rio dos Sinos se dava num ponto próximo a Esteio ou Sapucaia.
Mais tarde, entre as décadas de 1840 e 1870, Capela passou a pertencer ao município de São Leopoldo e deve ter se desenvolvido uma estrada entre as duas localidades. Esta, provavelmente, passava pela atual cidade de Portão.
Também é antiga a ligação entre Capela e São Sebastião do Caí. Esta deve ter se desenvolvido mais nos anos próximos a 1850, quando o Caí começou a ser povoado.
A estrada velha de Capela ao Caí deve ser aquela que - partindo-se de Capela - passa pelos fundos da Vila São Lucas e vai encontrar a RS-122 perto do abatedouro dos Colling. Antes um pouco de chegar à RS-240, seguindo por este caminho, existe uma lomba com calçamento de pedra irregular. A preocupação em fazer esta obra mostra como esta estrada foi importante no passado.
Mais adiante, no Passo da Taquara, há um trecho no qual a estrada passa entre dois barrancos. Quem passou por ali há 20 ou 30 anos atrás, lembra de como o caminho era estreito e os barrancos pareciam altos. A estrada passava, praticamente, dentro de um valo. E dizia-se que ela ficou assim porque as rodas das carretas foram escavando o terreno ao longo de muitos anos de uso daquela estrada.
Esta velha estrada da Capela passava, provavelmente, pelos fundos do núcleo da UCS, depois pela lomba da Roseta, e atravessava o arroio Cadeia no velho Passo do Cadeia, que fica a algumas centenas de metros (arroio abaixo) da velha ponte de ferro.
Depois de atravessar o passo, os viajantes dos tempos idos estavam próximos de chegar ao Caí.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

7 - A fábrica que fez a Capela crescer

Os prédios da antiga fábrica ainda são conservados
A Arrozeira Brasileira foi, no seu tempo, a maior empresa do município de São Sebastião do Caí. Ela produzia cordas, sacos e tapetes utilizando como matérias primas a juta vinda da Amazônia e o sisal plantado na Capela e em Guaíba. Do final da década de 40 até o início da de 1960, a empresa cresceu muito. Já no ano de 1951 empregava de 600 a 700 funcionários. E, no seu apogeu, chegou a ter 1.180 funcionários. Isto fez com que milhares de pessoas migrassem de outros pontos do estado (especialmente do município de Rio Pardo), fazendo crescer significativamente a população local.

Hugo e Fernando Kessler preocupavam-se com a educação, saúde e bem estar dos funcionários. Eles construíram uma escola primária que levou o nome de Victor Adalberto Kessler e proporcionaram excelentes cursos técnicos para o aprimoramento dos seus funcionários. Fernando Kessler viajou para a Alemanha e trouxe de lá a idéia do ensino dual, com aulas normais para as crianças pela manhã e aprendizado técnico na parte da tarde. Jovens e adultos estudavam Mecânica, Marcenaria, Fundição e Eletricidade na escola técnica que foi criada na empresa. Ela era chamada de Escola Industrial Fernando Kessler e dali saíram muitos jovens que depois se tornaram engenheiros ou empresários.

Às quintas-feiras eram exibidos filmes no salão do refeitório e foi criado um time de futebol da empresa que foi o melhor do município. Passou por lá o caiense Mauro Coelho, logo antes dele ingressar no time do Renner e tornar-se famoso no estado com o apelido de Barrilzinho de Pólvora. O médico e o dentista de maior reputação no Caí naquela época (Bruno Cassel e Arthur Schaeffer) foram contratados para dar assistência aos funcionários.

As informações para esta matéria foram prestadas, basicamente, por Pedro Exemberger, que ingressou na empresa em 1948, com doze anos de idade, freqüentou a escola técnica da empresa e trabalhou na mesma por muitos anos, exercendo funções de gerência industrial.

6 - Como surgiu a Arrozeira

A Arrozeira Brasileira foi a maior indústria do município de São Sebastião do Caí
Uma pequena fábrica de cordas, que existia em Estação Azevedo na década de 1930, foi adquirida por Victor Adalberto Kessler (um grande empresário de Porto Alegre dedicado à produção e comercialização de arroz com a marca Índio e proprietário do City Hotel) e passou a ser administrada por seus dois filhos Hugo e Fernando. Eles eram ainda rapazes, mas se mostraram muito competentes. A aquisição da fábrica pela família Kessler ocorreu no ano de 1941. Época em que acontecia a Segunda Guerra Mundial. O que, se de um lado representava problemas para o desenvolvimento da empresa, também oferecia oportunidades. As importações estavam impossibilitadas devido ao perigo de navegar pelos oceanos infestados de submarinos alemães.

Graças ao espírito dinâmico de Hugo e Fernando Kessler, a empresa foi se organizando e desenvolvendo. Logo que assumiram a empresa começaram a demonstrar um dinamismo que causou admiração e surpresa entre a população da pacata vila de Capela de Santana. Sua primeira iniciativa foi construir dois pontilhões na estradinha que ligava a fábrica à estação da estrada de ferro. Mas foi só depois da Guerra, em 1947 que a fábrica começou a tomar maior impulso. O nome da empresa mudou para Arrozeira Brasileira SA e passou a ter como sócios membros das famílias Maroco e Previ (esta, da Argentina). Foram adquiridos equipamentos modernos, da Inglaterra. E técnicos foram chamados à Capela para fazer a instalação dos mesmos e a implantação de novos processos de produção. Um técnico japonês, vindo de São Paulo, orientou a instalação das novas máquinas e a adoção de novas técnicas.

Uma usina geradora de energia elétrica foi implantada pela própria empresa, usando lenha para movimentar uma caldeira que acionava as turbinas geradoras da energia. Matos de eucalipto foram plantados para fornecer a lenha. Foram adquiridas áreas de terra para a implantação de mais de 200 hectares de plantações de sisal. Uma olaria foi construída para fornecer os tijolos necessários para a construção dos prédios. Os três principais tinha 4.200 metros quadrados cada um.

5 - A primeira fábrica de cordas

Embora tenha sido o primeiro núcleo de colonização do Vale do Caí, até a década de 40 do século passado, Capela de Santana era uma localidade apenas rural, com pequena população. Não muito diferente do município do Caí, ao qual pertencia na época. Em todo o município haviam poucas indústrias e todas muito pequenas.

Na época a estrada de ferro passava por Capela, mas isto não chegou a propiciar um grande impacto no seu desenvolvimento. As atividades econômicas predominantes eram a agricultura e a criação de gado praticadas de forma um tanto arcaica, com baixa produtividade.

Estação Azevedo, que hoje é um bairro da cidade de Capela de Santana, ganhou este nome devido à estação - parada - da ferrovia. Ela ficava no local onde hoje se encontra a fábrica Dilly. Foi perto desta estação ferroviária que surgiu - já na décade de 1930 - uma fabrica de cordas de sisal chamada Cordoaria e Sisal Ltda. A empresa pertencia à família Feijó, de Porto Alegre, e chegou a dar emprego a 17 funcionários. O que, para aquela época, não era pouca coisa. No município de São Sebastião do Cai (que então ainda incluía Capela, Portão, São José do Hortêncio, Feliz e Nova Petrópolis) eram muito poucas as empresas com número maior de empregados.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

4 - Professoras





Fotos da Escola Victor Adalberto Kessler tiradas por Aldecy Mendes Vargas em 2006

O pesquisador Aldecy Mendes de Vargas está fazendo levantamento quanto ao nome de professoras que lecionavam nas escolas de Estação Azevedo.
Na Grupo Escolar Vitor Adalberto Kessler (a escola da Arrozeira) , na qual ele estudou, Aldec lembra ter sido aluno da professora Elizabeti, de Montenegro.
Depois estudou com Luciana Teixeira, que morava na Divisa, entre Capela e o Pareci Velho. A professora Luciana era rica fazendeira, descendente dos antigos proprietários da Fazenda Pareci.
Em 1960. sua professora foi Haydée da Costa Tjäder, esta casada com o diretor Mario da Silva Tjäder.
Em 1961 estudou com a professora Maria Eunice Flores. A qual acredita que era de Montenegro.
E em 1962 sua professora foi Maria Nair Schmidt, que ele acredita ser do Caí.

Na escola da Vila São Lucas, a primeira professora foi Nelci Libano, que era auxiliada por suas filhas Júlia e Benta. As aulas nesta escola começaram em meados do ano de 1956.
Quem tiver mais informações para este levantamento, pode colaborar passando suas informações na forma de comentário. Clique sobre a palávra comentários (logo abaixo) e escreva as suas informações.

domingo, 19 de julho de 2009

3 - Mais sobre o Vale

Se você aprecia este blog e se intereça pela região do Vale do Caí, conheça outros aspectos da mesma visitando, também, os seguintes blogs:
historiasvalecai.blogspot.com
caishopping.blogspot.com
clustervaledocai.blogspot.com

2 - O cinema do James

Prédio em que funcionou o cinema da fábrica Arrozeira Brasileira (foto de Aldecy Mendes de Vargas)
O Salão dos Müller era o centro social de Estação Azevedo . Ali aconteciam bailes, seções de cinema, teatro, solenidades. A torre que se percebe atrás do cinema é a da Igreja Evangélica Luterana e a construção logo adiante foi residência de José Libano, dono da linha de ônibus para o Caí. Ele teve como filhos as professoras Júlia, Benta e Jurandir

Antes da chegada da TV eram feitas exibições de cinema em Capela de Santana.
Lembro de ter assistido a filmes na Arrozeira Brasileira e no Salão dos Müller. Este salão era o mesmo prédio em que meu pai, Willibaldo Klein teve armazém por volta de 1940.
Quem promovia as exibições de cinema neste salão era James Gehlen. James natural de Montenegro, mas morava na Divisa, na propriedade do seu sogro Carlos Zimmer. James era jovem e arrojado. Depois se destacou como empresário no ramo de floricultura. Um auditório existente na sede do CEASA, em Porto Alegre, tem o nome de James Gehlen.
Do cinema na Arrozeira, o que mais me recordo é de que fui até lá, certa vez, com meu irmão e nosso primo Pedro Nelson Laux (que nos visitava na ocasião). Fomos a pé, caminhando mais que um quilômetro. Meu irmão e o primo já eram adolescentes, conversavam coisas relacionadas com sexo. E eu escutava, sem entender direito do que se tratava. Mas devo ter entendido alguma coisa, pois a conversa deles ficou mais gravada na minha memória do que o filme que assistimos.
Lembro muito vagamente dos filmes que assisti na Capela. Me recordo que os melhores eram os filmes brasileiros (chanchadas com Oscarito e Grande Otelo). Mas o que mais ficou gravado na minha memória foi um filme de terror. Seu nome era Museu de Cera. Trata-se de um grande sucesso lançado nos Estados Unidos no ano de 1953, que só foi projetado na Capela por volta de 1959.

1 - Fim do Mundo

A lembrança mais viva que eu tenho da minha infância na Capela está relacionada a um fato que faz parte da história sentimental da cidade e que eu testemunhei de perto.

Em 20 de dezembro de 1959 foi inaugurada a TV Piratini, canal 5. Meu pai foi um dos primeiros capelenses a comprar um receptor de TV, já no ano de 1960. Quando o aparelho foi instalado na nossa casa, o fato se espalhou pela vizinhança toda. Naquela época, não havia transmissão de TV durante o dia (a não ser nos fins de semana). No primeiro dia em que fomos desfrutar a novidade, nossa casa se encheu de amigos, vizinhos, conhecidos, fregueses do armazém. Eram dezenas de pessoas. Tantas que não couberam todas dentro da sala e muitos assitiram de fora dela, pelas janelas.
E assim deve ter sido, também nos dias seguintes.
Creio que exatamente no dia da estréia (mas pode ter sido um ou dois dias depois) aconteceu um fato incrível. Naquela época falava-se muito no fim do mundo. Tinha gente que não acreditava em TV. Achava impossível que a imagem fosse transmitida de Porto Alegre para a Capela pelo ar. E muitos acreditavam que tais coisas eram brucharia ou sinais de que o Fim do Mundo estava próximo. Por isto a TV, além de despertar encantamento nas pessoas, provocava também um certo medo.
E não é que, justamente no dia da estréia (ou talvez num dia logo subsequente), com a sala de nossa casa lotada de pessoas que apreciavam a fantástica novidade, aconteceu uma violenta expolosão. O barulho vinha da rua, mas a imagem da TV deve ter tremido. As pessoas, tomadas de absoluta surpresa, ficaram em suspense. Não sabiam o que pensar. O mais óbvio parecia ser que uma novidade (a explosão) deveria ter algo a ver com a outra (a TV). Logo em seguida houve um outro ruído vindo do telhado da casa. Objetos caíam sobre ele, como numa forte chuva de pedra. Pessoas saíram correndo. E algumas até gritaram “É o fim do mundo!”.
Depois se soube que havia explodido a caldeira da graxeira (panelão em que se fervem os ossos e outros restos da rês carneada, para se extrair deles a graxa). A graxeira funcionava como uma espécie de panela de pressão e, em caso de descuido, podia explodir. Como acontece também com a caldeira de um barco a vapor ou de um trem. E ela ficava num local coberto por telhado. Com a explosão, o telhado foi aos ares e foram pedaços de telha que caíram sobre o telhado da nossa casa, produzindo ruido após a explosão. Uma ou duas pessoas, que cuidavam da graxeira, ficaram muito queimadas, pois a água e graxa ferventes foi lançada sobre os seus corpos.
Deve haver gente na Capela (talvez até mesmo estas pessoas que foram atingidas pela explosão ou as que estavam em nossa casa assistindo à TV), que poderiam contar mais detalhes sobre esta história.